Às vezes estou em casa, mas são poucas. Tudo isso porque sou um prof. de filosofia que só representa um nº para os nossos esclarecidos governantes. Como eles, também sou a imagem do sucesso. Os alunos sucedem-se ano, após ano cada vez mais longe. Educo para absolver os meus pecados, pois "ainda sou do tempo das enfermeiras que não se podiam casar".

Saturday, September 12, 2009

O Fim do desterro (e do blogue?)

Bem hajam as eleições...
Pela primeira vez na minha vida e ao fim de 15 anos de ensino, quatro dos quais efectivo a mais 450 km de casa, estou, finalmente, colocado numa escola a 2 km da minha residência. Agora posso levar as minhas filhas à escola, uma vez por semana pelo menos e estar pela primeira vez com elas no dia do Pai.
Foram mais de 350 viagens entre Guimarães/Famalicão e o Redondo/Elvas. Quatro anos onde podia sempre ter ficado em casa... Hoje podia continuar casado? Não sei! Podia decerto ter visto a minha segunda filha nascer? Não sei! Podia ter mais dinheiro, ter mais saúde, podia ter o meu carro que deixei na sucata depois de um acidente...Podia sei lá! Tanta coisa.
O que ganhei? Alguns amigos. Alentejanos uns e outros desterrados como eu para mutuamente partilharmos as mágoas. O que trouxe comigo? Esses amigos que ficaram e os alunos. A alguns decerto a que ajudei a integrar valores, conhecimentos, atitudes. Perdi tudo o resto!
E qual a única razão de ser de tudo isto? QUAL A ÚNICA GRANDE RAZÃO PARA PERDER TANTO?
Serei sempre o desterrado porque nunca, nunca mais poderei regressar a casa!
Guardo da paisagem alentejana a nostalgia de ser o melhor lugar para viver, o melhor lugar para aqueles que ainda não têm um lar e uma casa.
Como Ulisses regressei a Ítaca, mas nem a minha mulher nem o meu cão me reconheceram.

P.S. A todos os colegas e amigos que conseguiram chegar a casa...
(Infelizmente há três anos atrás não houve eleições, pois se houvesse, nunca eu teria sido desterrado)