Às vezes estou em casa, mas são poucas. Tudo isso porque sou um prof. de filosofia que só representa um nº para os nossos esclarecidos governantes. Como eles, também sou a imagem do sucesso. Os alunos sucedem-se ano, após ano cada vez mais longe. Educo para absolver os meus pecados, pois "ainda sou do tempo das enfermeiras que não se podiam casar".

Monday, March 31, 2008

Opiniões que contam...


"(...)os critérios de avaliação (leia-se da avaliação dos professores) não medem a moral, nem o ambiente, nem os valores da escola ou a contribuição de cada professor para a sobrevivência e a força dessa moral, desse ambiente e desses valores".
Parece quase visionária esta capacidade de perceber que a nossa sociedade precisa de um ethos. Ethos é o conceito grego que dá a origem etimológica à palavra Ética. Os gregos designavam ethos por costumes ou comportamentos habituais.
Também hoje, os costumes ou hábitos não surgem por geração espontânea. Transmitem-se em casa, na escola, na rua, na televisão, são os modelos que devem suportar esse ethos.... Pensar que neste país há professores a quem é recusada a aposentação, apesar do diagnóstico de uma doença terminal e isto ao fim de mais de 32 anos de trabalho é dizer aos seus alunos que o Estado não quer saber da sua dignidade. Infelizmente, são muitos exemplos destes a revelar que esta sociedade está esquizofrénica e o tresandar a bodes expiatórios, como a pseudo- autoridade de um pai ou professor perante um filho ou um aluno é aquilo que mais veremos fora e dentro das famílias e das escolas.
Foi por isso que me lembrei deste artigo de jornal que ainda não tinha reciclado. Nas minhas aulas de filosofia os alunos procuram entender quais os bens que são prioritários ...

Monday, March 17, 2008

08-03-2008

Eu estive lá. Apesar de não ser assalariado da Lisnave, também nunca fui a Fátima a pé, nem me dedico à militância quer do ópio do povo, quer da dos outros partidos da oposição. Tive a impressão de não ter visto à minha volta assim tantos primatas... infiltrados de umas licenciaturas em qualquer curso de media não sei quê, que se dizem professores universitários dos cursos das Antigas Oportunidades. Aqueles doutores do tempo das Modernas, Independentes... Institutos de toda a panóplia de bricolage para quem queria um canudo. O sr. doutor também pertencia ao lobby daqueles que geraram milhares de licenciados para o desemprego? De cursos que só se mantiveram abertos, durante quase duas décadas (na maioria dos casos ainda existem) e que serviram para encher a pança de alguns camaleões doutro circo? Com o desemprego à vista, alguns sr. doutor obtiveram destacamento de acordo com a lei da mobilidade em vigor e foram agarrando tacho nos jornais, rádios e tvs independentes como convém.
Decerto o sr. doutor seria um desses e, por isso, não conseguiu um bilhete de graça para o nosso circo, apesar de estar lá, de certeza para com rigor jornalístico opinar para um matutino da capital... estaria tão bem camulflado que não tive o vislumbre de o ver. Fiquei na dúvida se o sr. andaria de helicóptero ou então não estaria com o leão do Marquês ou o cavalo de D. José I? Não sei em que animal de circo estaria o sr. doutor camuflado. Por acaso saberá dizer-me como se chama o leão do Marquês? E o cavalo do rei?
Eu estive lá. Não no seu circo, mas no meu. Ao meu lado estavam alguns senhores doutores que apesar das ordens em contrário, ainda pensam, ainda sabem ensinar. Felizmente não foram todos seus alunos. Sabe dizer-me se o cavalo do rei ficará para a história? Pelo menos ficou na fotografia. Exactamente como todo o ranger de dentes dos emídios. Podem zurrar ou rosnar como quiserem. Aquela foi apenas a marcha pacífica de alguns dos professores deste país (cerca de 100mil) que ficarão para a história como a maior da democracia Portuguesa depois do 1º de Maio de 1974. Estaria o sr. doutor nessa? Seria já o stuard dos holligans da altura? Também tenho vergonha deste pseudo-doutores, que não pensam, trabalham menos que pouco e nunca foram avaliados. Vergonha é o estado que me fez mobilizar para fazer parte de uma marcha da classe a que pertenço. Foi a minha primeira vez. Como muitos outros. Infelizmente o sr. doutor não perceberá quanto significam 2/3 da classe mais eclética de licenciados deste país. Saberá por acaso o significado de ecletismo? Das letras e artes, ciências naturais, ciências exactas, económicas e humanas - mais de 2/3 de uma classe de seres pensantes, a mais eclética classe de seres pensantes do país sabe muito bem que em educação os palhaços devem estar fora do palco.

Tuesday, March 04, 2008

as cores das linhas de metro de Lisboa

A obra prima de arte contemporânea versão simplificada do modelo de Avaliação Individual de Docentes (D.R. 2/2008) é um quadro que revela claramente a tentativa de afirmação e a firmeza de carácter do pintor. Este pensando encontrar-se perdido na linha do metro de Lisboa, vai saltando de estação em estação numa manifesta tentativa de sublimação dos seus recalcamentos, pulsões e repressões escondidas no inconsciente. Com um movimento pictural vivo de mistura de cores quentes e frias e traço contínuo, o artista procura exprimir a sua libertação para o génio absurdo.
Este movimento artístico é segundo alguns psiquiatras o sinal de bipolaridade e esquizofrenia aguda. A alternância do colorido quente e frio revelam fantasia e delírio onírico.
Depois de Os Painéis de S. Vicente (a obra-prima da pintura portuguesa do século XV na qual, com um estilo bastante seco mas poderosamente realista, se retratam figuras proeminentes da corte portuguesa de então, incluindo o que se presume ser um auto-retrato, e se atravessa toda a sociedade, da nobreza e clero até ao povo) esta obra contemporânea neo-surrealista poderá ser a mais importante produção da pintura portuguesa deste século. É considerada pela crítica como fonte de inspiração da ideologia simplex, na sua versão hard.

Por outras palavras - Por Manuel António Pina

"Ex.ma Sra. Governadora Civil



Manuel António Pina
O acima assinado, cidadão português e cronista, vem, muito respeitosamente, expor e requerer a V. Ex.ª o seguinte:

1 - Tendo o signatário tido conhecimento de que a PSP identificou três professores que, convocados por sms, se reuniram no sábado na Avenida dos Aliados para, supõe-se, não dizer bem das políticas educativas do Ministério da Educação;
2 - Mais tendo sabido que, entre as centenas de presentes, a PSP decidiu identificar (já que tinha que identificar alguém e não levara consigo bolinhas numeradas para proceder a um sorteio) três pessoas que falaram às TV's;
3 - E tendo sabido ainda que tal identificação (e tudo o que se lhe seguirá) se deveu ao facto de as pessoas em causa não terem, em devido tempo, informado V. Ex.ª de que pretendiam ir nessa tarde à Avenida dos Aliados;
4- Tendo, por fim, conhecimento de que, pelo mesmo motivo, um sindicalista foi recentemente condenado em Oeiras;

vem o signatário solicitar autorização de V. Ex.ª para, logo à noite, se reunir com alguns amigos no Café Convívio, sito na Rua Arquitecto Marques da Silva, nº 303, no Porto, a fim de discorrerem todos ociosamente sobre assuntos diversos, entre os quais provavelmente não dizer bem das políticas educativas do Ministério da Educação.

Pede deferimento".

Jornal de Notícias 26 de Fevereiro de 2008