Pai Natal,
Escrevo-te perfeitamente convicto de que não vais receber esta carta e o meu pedido. Não vais recebê-la porque realmente não sei a tua morada. Esta é uma carta sem destino e por isso, muito especial. Mesmo tendo decidido que não vou meter esta carta no correio, decidi escrever-te apesar de ter muitas e boas razões para duvidar se a irás ler. Primeiro, porque já te disse, não sei a tua morada; segundo porque duvido que tu existas; e terceiro, porque mesmo que existisses e lesses o que tenho para te dizer, não saberias como atender o pedido de um homem crescido que já não se interessa por brinquedos, nem chocolates, nem nada do que possas transportar dentro do teu saco, no trenó puxado pelas tuas renas da Lapónia que não sei onde fica.
Pai Natal, desculpa estar a ser frontal e sincero contigo, mas enquanto que muitas crianças em todo o mundo depositam em ti a esperança de um presente de Natal, eu que também fui criança nunca te escrevia a ti e sempre acreditei muito mais no Menino Jesus. Talvez por isso duvide tanto da tua existência e da tua capacidade em distribuir indiferenciadamente verdadeiras prendas de Natal. Mais uma vez desculpa a minha frontalidade e sabe que sempre respeitei as pessoas mais velhas e sobretudo os idosos como tu, mas devo dizer-te: tu não existes, nem nunca deverias ter sido inventado, a não ser para as crianças que não têm nenhum Menino Jesus. Se consideras que estou a ser demasiado exagerado na certeza da tua inexistência ou incompetência, mete-me em tribunal por estar a difamar a tua figura. Acontece que ser réu de crimes não cometi é coisa a que começo a ficar habituado desde que fiz trinta e três anos, e por isso, enfrentar-te-ei na barra de qualquer tribunal sem advogado de defesa. Tenho a certeza de que os meus argumentos irão desmascarar o embuste em que te tornaste por excesso de vaidade. Sempre vestido de vermelho e branco para agradar não sei a quem e com barbas postiças que a serem verdadeiras teriam outra cor quando passasses pelas chaminés. Devo dizer-te, tu tornaste-te num distribuidor ambulante de presentes made in sabe-se lá em que parte que apenas contribui para aumentar a despesa dos pais das crianças inocentes; a receita dos donos das lojas menos inocentes; o acréscimo do endividamento generalizado das famílias; alguma sonolência na contestação generalizada ao governo que respira de alívio com mais umas Opas enquanto todas as famílias se hipnotizam com a alegria das crianças a abrir os presentes que te encomendaram.
Desculpa a minha indignação e falta de paciência, mas devo dizer-te – tu deverias era reformar-te de vez, pois de certeza já terás mais de sessenta e cinco anos e a tua licença de pilotagem para o ternó deve ter caducado o que constitui um perigo para a navegação. Além disso, o Menino Jesus está desempregado e tem um curriculum muito melhor que o teu. Era um bem que farias à Humanidade se te reformasses e desses o lugar ao Menino, que sempre foi muito mais justo na distribuição dos presentes e muito mais humilde do que tu. Não dava presentes caros a quem não os podia pagar e acima de tudo sempre soube trazer no saco das prendas para as crianças e para os adultos coisas muito mais nobres e valiosas. Dava por exemplo, amor às crianças e às famílias, perdão aos pais e às mães que se zangavam muito, perdão às crianças que se portavam mal, aos irmãos, aos tios, aos avós, paz ou tréguas entre todos os inimigos. Sabes, Pai Natal quando tu ainda não tinhas sido inventado aqui, todas as crianças como eu fui brincavam com presentes novos no dia de Natal e todas os tinham na mesma. Até quando os pais explicavam que o Menino Jesus era pobre, alguma coisa fazia brilhar de manhã os olhos surpreendidos de qualquer criança, nem que o presente fosse um chocolate.
Por tudo isto, Pai Natal, o verdadeiro Natal não voltará a visitar-me enquanto que tu não decidires reformar-te de vez, ou então mudares a tua atitude e abrires uma sociedade anónima em que o Menino Jesus volte a ser o sócio gerente e tu o responsável pelas entregas ao domicílio.
P.S. Hohohoh, Hohohoh, é na tua terra. Aqui em Portugal diz-se: Feliz Natal.
Escrevo-te perfeitamente convicto de que não vais receber esta carta e o meu pedido. Não vais recebê-la porque realmente não sei a tua morada. Esta é uma carta sem destino e por isso, muito especial. Mesmo tendo decidido que não vou meter esta carta no correio, decidi escrever-te apesar de ter muitas e boas razões para duvidar se a irás ler. Primeiro, porque já te disse, não sei a tua morada; segundo porque duvido que tu existas; e terceiro, porque mesmo que existisses e lesses o que tenho para te dizer, não saberias como atender o pedido de um homem crescido que já não se interessa por brinquedos, nem chocolates, nem nada do que possas transportar dentro do teu saco, no trenó puxado pelas tuas renas da Lapónia que não sei onde fica.
Pai Natal, desculpa estar a ser frontal e sincero contigo, mas enquanto que muitas crianças em todo o mundo depositam em ti a esperança de um presente de Natal, eu que também fui criança nunca te escrevia a ti e sempre acreditei muito mais no Menino Jesus. Talvez por isso duvide tanto da tua existência e da tua capacidade em distribuir indiferenciadamente verdadeiras prendas de Natal. Mais uma vez desculpa a minha frontalidade e sabe que sempre respeitei as pessoas mais velhas e sobretudo os idosos como tu, mas devo dizer-te: tu não existes, nem nunca deverias ter sido inventado, a não ser para as crianças que não têm nenhum Menino Jesus. Se consideras que estou a ser demasiado exagerado na certeza da tua inexistência ou incompetência, mete-me em tribunal por estar a difamar a tua figura. Acontece que ser réu de crimes não cometi é coisa a que começo a ficar habituado desde que fiz trinta e três anos, e por isso, enfrentar-te-ei na barra de qualquer tribunal sem advogado de defesa. Tenho a certeza de que os meus argumentos irão desmascarar o embuste em que te tornaste por excesso de vaidade. Sempre vestido de vermelho e branco para agradar não sei a quem e com barbas postiças que a serem verdadeiras teriam outra cor quando passasses pelas chaminés. Devo dizer-te, tu tornaste-te num distribuidor ambulante de presentes made in sabe-se lá em que parte que apenas contribui para aumentar a despesa dos pais das crianças inocentes; a receita dos donos das lojas menos inocentes; o acréscimo do endividamento generalizado das famílias; alguma sonolência na contestação generalizada ao governo que respira de alívio com mais umas Opas enquanto todas as famílias se hipnotizam com a alegria das crianças a abrir os presentes que te encomendaram.
Desculpa a minha indignação e falta de paciência, mas devo dizer-te – tu deverias era reformar-te de vez, pois de certeza já terás mais de sessenta e cinco anos e a tua licença de pilotagem para o ternó deve ter caducado o que constitui um perigo para a navegação. Além disso, o Menino Jesus está desempregado e tem um curriculum muito melhor que o teu. Era um bem que farias à Humanidade se te reformasses e desses o lugar ao Menino, que sempre foi muito mais justo na distribuição dos presentes e muito mais humilde do que tu. Não dava presentes caros a quem não os podia pagar e acima de tudo sempre soube trazer no saco das prendas para as crianças e para os adultos coisas muito mais nobres e valiosas. Dava por exemplo, amor às crianças e às famílias, perdão aos pais e às mães que se zangavam muito, perdão às crianças que se portavam mal, aos irmãos, aos tios, aos avós, paz ou tréguas entre todos os inimigos. Sabes, Pai Natal quando tu ainda não tinhas sido inventado aqui, todas as crianças como eu fui brincavam com presentes novos no dia de Natal e todas os tinham na mesma. Até quando os pais explicavam que o Menino Jesus era pobre, alguma coisa fazia brilhar de manhã os olhos surpreendidos de qualquer criança, nem que o presente fosse um chocolate.
Por tudo isto, Pai Natal, o verdadeiro Natal não voltará a visitar-me enquanto que tu não decidires reformar-te de vez, ou então mudares a tua atitude e abrires uma sociedade anónima em que o Menino Jesus volte a ser o sócio gerente e tu o responsável pelas entregas ao domicílio.
P.S. Hohohoh, Hohohoh, é na tua terra. Aqui em Portugal diz-se: Feliz Natal.