Às vezes estou em casa, mas são poucas. Tudo isso porque sou um prof. de filosofia que só representa um nº para os nossos esclarecidos governantes. Como eles, também sou a imagem do sucesso. Os alunos sucedem-se ano, após ano cada vez mais longe. Educo para absolver os meus pecados, pois "ainda sou do tempo das enfermeiras que não se podiam casar".

Tuesday, March 14, 2006

Desterradíssimo por mais três anos

É altura de concursos. Durante a próxima semana serei o mais meticuloso dos profs. deste país a concorrer. Cem escolas, cinquenta concelhos e vinte e três zonas pedagógicas são números suficientes para que me calhe alguma coisa. Como já sou um prof. do quadro (neste caso do QZP de Évora) não tenho muito com que me preocupar. Estar preocupado é estar pré-ocupado e o meu concurso é só para a semana. Porque o meu nome é J de janela, a minha vez é já a seguir...
Depois de ter trabalhado onze anos a tempo inteiro, com dedicação plena a uma das mais nobres causas que é a de fazer luz nas cabeças dos meninos e das meninas do Portugal futuro, o que as cabeças dos meninos e das meninas do Portugal presente que decidem, sabem fazer é desterrar-me. Não porque me tenham roubado a terra. A minha terra é o Portugal inteiro em qualquer parte do mundo. Só me desterram quando me roubam os sonhos e uma forma de vida. Sim, porque a minha vida não sou só eu, estou desterradíssimo! Eu passo bem só e desterrado, mas como sou pai, ainda por cima consciente da importância que a minha presença tem no processo de desenvolvimento social, afectivo, cognitivo... das minhas filhas, pequeninas de alguns centímetros, e por isso desprotegidas, indefesas, inocentes... aí só posso sentir-me desterradíssimo.
O destacamento por apróximação à residência é só para aqueles que estão "instalados" nas escolas (Q.E). Fazem por isso parte das instalações, são mais um número do Portugal presente e os outros, como eu, concorram para as vagas inexistentes e para as negativas que estão ao pé de casa - ondem crescem sem mim as minhas filhas.
Estou desterradíssimo, pronto. A culpa é dos professores que não souberam educar os ministros quando estes eram crianças. Salvam-me os colegas e alguns amigos solidários no Portugal futuro que queremos construir.

7 comments:

José Miguel de Oliveira said...

Não há pior cenário neste momento do que pensar que nos próximos anos terei de fazer 900km por semana se quiser ver as minhas filhas. Isso dá qualquer coisa como 36.000Km em cada 10 meses, ou seja 108000Km em três anos só para me dirigir para o local de trabalho. Ao preço do gasóleo, incluindo as portagens, não pensando no desgaste do carro, não sei se os 1600 euros médios mensais que os deputados recebem de ajudas de custo para deslocações chegará. Isto porque me desloco de automóvel. Faço para poupar à minha vida 600 horas anuais em que sou, não professor mas motorista. Se me dirigisse em transporte público, não gastaria 1800 horas em três anos, mas umas simpáticas 3600, ou seja, se um dia tem vinte e quatro horas, calcula lá quantos dias eu vegeto para lecionar em três anos. E isto, com a motivação extrema de ter sempre ao meu lado aqueles que amo. Por tudo isto preferiria morrer na guerra a defender o Portugal futuro.

poca said...

pera que isso tb não é assim tão tão mau... (digo eu!) e quando digo isto não me refiro à falta que fazes às tuas crianças porque isso concordo em absoluto, as crianças precisam de um pai!!
falo em relação a esses 900km de que falas... não estarás a exagerar um bocadinho?
é que isso os professores queixam-se muito mas de barriga cheia... ganham bem, saem cedo, têm montes de férias e ainda têm hipótese de conhecer pessoas novas todos os anos e sítios diferentes pelo país... isso é que é liberdade, isso é que é qualidade de vida (leia-se isto com muuuuita ironia)!!
qual raízes, qual família... vão todos para professores!!!principalmente os políticos que inventam decretos lei só para afundar os professores de forma flagrante e os alunos de forma dissimulada... porque no fundo o que eles querem é números para enviar para a europa que garantam que em portugal não há analfabetos!!!
se as pessoas começassem a abrir os olhos e ninguém fosse para professor... acho que voltavam a dar valor à carreira e a tratar os docentes com a mesma dignidade e decência que eles tratam as outras profissões!
as pessoas que estão de fora não se apercebm da gravidade da situação... cada um olha para o seu umbigo... é assim no mundo e é assim em portugal...
Eu penso assim, se me enganar num cruzinha... se for excluída... se ficar em cascos de rolha... é porque tinha de ser assim... ou porque tenho de mudar de vida!!!
força filósofo!!

Anonymous said...

Ter verdadeiro sucesso na vida é: rir muito e muitas vezes; ganhar o respeito de pessoas inteligentes; gozar do carinho de meninos; ganhar o reconhecimento de pessoas qualificadas e saber suportar a traição de falsos amigos; apreciar a beleza; procurar o melhor nos demais; deixar o mundo um pouco melhor de como o encontrou - com um filho são, um jardim bonito ou uma pessoa mais feliz; saber que ao menos alguém viveu melhor graças a si. E acho que o professor isso já consegui. Foi a pessoa que conheci até hoje, em 16 anos de vida, com mais riqueza e beleza interior. Um verdadeiro ser humano, alguém que me alegro ao ouvir falar, sentir que nos quer transmitir algo, que quer fazer de nós alguém na vida, isso é o melhor que uma pessoa pode ter na vida. O facto de estar longe é muito mau, mas tem que pensar que tem pessoas que o rodeiam que gostam de si e que estão sempre aqui quando precisar. Espero que para o ano fique mais perto da sua casinha e das suas lindas meninas... E acima de tudo, que seja feliz, bem o merece.

Anonymous said...

Ter verdadeiro sucesso na vida é: rir muito e muitas vezes; ganhar o respeito de pessoas inteligentes; ganhar o reconhecimento de pessoas qualificadas e saber suportar a traição de falsos amigos; apreciar a beleza; procurar o melhor nos demais; deixar o mundo um pouco melhor de como o encontrou - com um filho, um jardim bonito ou uma pessoa mais feliz; saber que ao menos alguém viveu melhor graças a si. E acho que o professor isso já conseguiu. Foi a pessoa que conheci até hoje, em 16 anos de vida, com mais riqueza e beleza interior. Um verdadeiro ser humano, alguém que me alegro ao ouvir falar, sentir que nos quer transmitir algo, que quer fazer de nós alguém na vida, isso é o melhor que uma pessoa pode ter na vida. O facto de estar longe é muito mau, mas tem que pensar que tem pessoas que o rodeiam que gostam de si e que estão sempre aqui quando precisar. Espero que para o ano fique mais perto da sua casinha e das suas lindas meninas... E acima de tudo, que seja feliz, bem o merece.

Anonymous said...

pois é ....mas quem tem que passar por elas é que se lixa...eu cá tenho intenção de deixar o ensino assim que possa... e de convidar a ministra a vir trabalhar numa escolinha das dela...além de desejar o mesmo ao "primeiro" para que ele possa sempre expressar o seu "I`m veri impressid uid iu", logo no primeiro dia de aulas, pelo menos eu acho que ele iria ficar verdadeiramente impressionado! com a matéria prima que moldamos.....

Anonymous said...

olá meu amigo espero que não fiques ssim por muito tempo. Agora que tens três mulheres o desterro é pior...Mas pensa que para o ano estás mais perto e não há nada como três lindas mulheres que te esperam todos os dias ...Bem hajas meu amigo e que tudo te corra pelo melhor.

Anonymous said...

Boas sr. professor, acho que nao deve saber quem é, mas eu digo-lhe! fui seu aluno no 10º ano, ano lectivo de 2004/2005 na escola secundaria D. Afonso Henriques, vila Das Aves. So venho aqui deixar o meu descontentamento, pois achei-o um professor muito competente, e com uma grande interação com os alunos. Tenho pena que tenha sido colocado tao longe. Longe da familis, longe dos amigos, longe de quase tudo ou tudo o que lhe era proximo. so espero que isso melhore e que lhe corra tudo bem mesmo. comprimentos João Rodrigues --> jp_deathknigth16@hotmail.com