Às vezes estou em casa, mas são poucas. Tudo isso porque sou um prof. de filosofia que só representa um nº para os nossos esclarecidos governantes. Como eles, também sou a imagem do sucesso. Os alunos sucedem-se ano, após ano cada vez mais longe. Educo para absolver os meus pecados, pois "ainda sou do tempo das enfermeiras que não se podiam casar".

Tuesday, December 05, 2006

A Universalidade do acto de ensinar

Eu, pai, professor, aluno confesso. Confesso que são muitas as perguntas que me assolam, por vezes o pensamento. São perguntas substantivas, importantes para dar sentido à minha vida, para compreender a minha existência no espaço de convivência com os outros seres humanos…Outras, são perguntas mais práticas, faço-as antevendo respostas mais imediatas, mas nem por isso últimas. Faço-as porque ajudam a perceber o papel que desempenho no mundo e com a sua resposta antevejo o papel dos outros também. Confesso. Decidi escrever para diminuir a febre que me prende os músculos. Nem sei por onde começar – entendam, isto não pressupõe necessariamente um começo. Mas estas perguntas são para todos nós, membros de uma comunidade, perguntas pertinentes. O que é ensinar? Qual o significado da escola? O que é a docência? O que é ser professor? Não pretendo relativizar, nem mesmo demonstrar cepticismo em relação ao que estes conceitos representam para a maioria das pessoas. O meu propósito, assemelha-se ao da dona de casa: arrumar as coisas e organizar o espaço. Por isso, me proponho a definir estes conceitos e aclarar as suas noções, talvez pela importância que elas impõem. Se o meu latim não falhar, o DOCENTE tomado na sua acepção etimológica é alguém parecido com um maquinista, motorista ou piloto. Ducere significa conduzir, identificando assim o sentido profundo da docência: aquele que conduz a bom porto os alunos, aquele que lhes abre caminhos e perspectivas para que atinjam a meta, aquele que lhes indicia o caminho. Manobrar o veículo não significa forçá-lo na sua trajectória, mas antes estimular os mecanismos e as engrenagens que o façam atingir um in-determinado ponto – a meta que se pretende alcançar. Para conduzir alunos é necessário que estes se consciencializem que há metas ou objectivos, como tudo na vida. Daí a necessidade do docente professar. A docência implica o PROFESSOR, uma vez que como homem/mulher de saber (geral, técnico ou especializado) que todo o professor é (deve ser) a sua função, análoga à do profeta, é a de revelador. Não pretendo com isto significar que o professor é alguém que tal como o profeta transmite uma verdade divina, mas antes, mostrar que a missão do professor é professar: transmitir conhecimentos que obtenham para o aluno o significado de revelação suscitando assim o interesse. O significado do professor não é deste modo separável doutro mais amplo como é o de ESCOLA. Do grego skholé que significa descanso, ócio dedicado ao estudo, à meditação e contemplação do saber (episteme), ou schola, ae, em latim, cujo significado remete para a ocupação literária, lição, curso, lugar onde se ensina, sistema de doutrina. Por último falta-me responder à primeira questão, que propositadamente deixei para o fim. O que é ensinar? O que se entende por ensino? Tal como nas respostas anteriores este conceito não é separável do de escola, nem de docência, nem de professor. Mas também não o é de pai, ou de educador, ou de encarregado da educação. Insigé,is ou Insigníre significa marcar, colocar uma marca distinta, distinguir, tornar notável, fazer notar, o que remete para a universalidade do acto de ensinar como algo que não é exclusivo da escola e do professor, mas de todos aqueles que desde a raiz e do berço devem cumprir a função de ensinar: instruir sobre, transmitir princípios, normas e valores socialmente aceites – a isso se chama educar – educare, criar, cultivar, instruir, desenvolver. Porque todos somos alunos, pais e professores também e os verbos ensinar e educar são transitivos.

1 comment:

Filipe Pereira said...

"Manobrar o veículo não significa forçá-lo na sua trajectória, mas antes estimular os mecanismos e as engrenagens que o façam atingir um in-determinado ponto – a meta que se pretende alcançar."

Não li em lado algum uma alegoria tão brilhante ao acto de ensinar! Brilhante e universal. Lembrei-me do acto de formatar colegas de trabalho para um tipo de acções que gostaria que eles implementassem. E a coisa é mesmo assim que se guia: não se forçam soluções mas estimulam-se sim as ideias.

Brilhante como sempre caro amigo