Eu, pai, professor, aluno confesso. Confesso que são muitas as perguntas que me assolam, por vezes o pensamento. São perguntas substantivas, importantes para dar sentido à minha vida, para compreender a minha existência no espaço de convivência com os outros seres humanos…Outras, são perguntas mais práticas, faço-as antevendo respostas mais imediatas, mas nem por isso últimas. Faço-as porque ajudam a perceber o papel que desempenho no mundo e com a sua resposta antevejo o papel dos outros também. Confesso. Decidi escrever para diminuir a febre que me prende os músculos. Nem sei por onde começar – entendam, isto não pressupõe necessariamente um começo. Mas estas perguntas são para todos nós, membros de uma comunidade, perguntas pertinentes. O que é ensinar? Qual o significado da escola? O que é a docência? O que é ser professor? Não pretendo relativizar, nem mesmo demonstrar cepticismo em relação ao que estes conceitos representam para a maioria das pessoas. O meu propósito, assemelha-se ao da dona de casa: arrumar as coisas e organizar o espaço. Por isso, me proponho a definir estes conceitos e aclarar as suas noções, talvez pela importância que elas impõem. Se o meu latim não falhar, o DOCENTE tomado na sua acepção etimológica é alguém parecido com um maquinista, motorista ou piloto. Ducere significa conduzir, identificando assim o sentido profundo da docência: aquele que conduz a bom porto os alunos, aquele que lhes abre caminhos e perspectivas para que atinjam a meta, aquele que lhes indicia o caminho. Manobrar o veículo não significa forçá-lo na sua trajectória, mas antes estimular os mecanismos e as engrenagens que o façam atingir um in-determinado ponto – a meta que se pretende alcançar. Para conduzir alunos é necessário que estes se consciencializem que há metas ou objectivos, como tudo na vida. Daí a necessidade do docente professar. A docência implica o PROFESSOR, uma vez que como homem/mulher de saber (geral, técnico ou especializado) que todo o professor é (deve ser) a sua função, análoga à do profeta, é a de revelador. Não pretendo com isto significar que o professor é alguém que tal como o profeta transmite uma verdade divina, mas antes, mostrar que a missão do professor é professar: transmitir conhecimentos que obtenham para o aluno o significado de revelação suscitando assim o interesse. O significado do professor não é deste modo separável doutro mais amplo como é o de ESCOLA. Do grego skholé que significa descanso, ócio dedicado ao estudo, à meditação e contemplação do saber (episteme), ou schola, ae, em latim, cujo significado remete para a ocupação literária, lição, curso, lugar onde se ensina, sistema de doutrina. Por último falta-me responder à primeira questão, que propositadamente deixei para o fim. O que é ensinar? O que se entende por ensino? Tal como nas respostas anteriores este conceito não é separável do de escola, nem de docência, nem de professor. Mas também não o é de pai, ou de educador, ou de encarregado da educação. Insigé,is ou Insigníre significa marcar, colocar uma marca distinta, distinguir, tornar notável, fazer notar, o que remete para a universalidade do acto de ensinar como algo que não é exclusivo da escola e do professor, mas de todos aqueles que desde a raiz e do berço devem cumprir a função de ensinar: instruir sobre, transmitir princípios, normas e valores socialmente aceites – a isso se chama educar – educare, criar, cultivar, instruir, desenvolver. Porque todos somos alunos, pais e professores também e os verbos ensinar e educar são transitivos.
Às vezes estou em casa, mas são poucas. Tudo isso porque sou um prof. de filosofia que só representa um nº para os nossos esclarecidos governantes. Como eles, também sou a imagem do sucesso. Os alunos sucedem-se ano, após ano cada vez mais longe. Educo para absolver os meus pecados, pois "ainda sou do tempo das enfermeiras que não se podiam casar".
Tuesday, December 05, 2006
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1 comment:
"Manobrar o veículo não significa forçá-lo na sua trajectória, mas antes estimular os mecanismos e as engrenagens que o façam atingir um in-determinado ponto – a meta que se pretende alcançar."
Não li em lado algum uma alegoria tão brilhante ao acto de ensinar! Brilhante e universal. Lembrei-me do acto de formatar colegas de trabalho para um tipo de acções que gostaria que eles implementassem. E a coisa é mesmo assim que se guia: não se forçam soluções mas estimulam-se sim as ideias.
Brilhante como sempre caro amigo
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