Às vezes estou em casa, mas são poucas. Tudo isso porque sou um prof. de filosofia que só representa um nº para os nossos esclarecidos governantes. Como eles, também sou a imagem do sucesso. Os alunos sucedem-se ano, após ano cada vez mais longe. Educo para absolver os meus pecados, pois "ainda sou do tempo das enfermeiras que não se podiam casar".

Thursday, June 19, 2008

Reserva 2006/2008

Durante catorze anos tive a oportunidade de ver sair das adegas cooperativas onde trabalhei vinhos da mais altíssima qualidade. Uns provenientes de castas raras e específicas da nossa tradição viticultural do alto minho e minho (casos raros de vinho verde único, branco e tinto que apesar de se dever beber fresco, também bebi à temperatura ambiente no inverno) de trás-os-montes (na raia de Chaves) e do alentejo (no Redondo), os maduros de casta aragonês, trincadeira, alfroxeiro, periquita, uns mono-casta, outros com mistura de castas com muito valor, pelo arôma, cor e sabores únicos. São desses que se envelheceram as melhores reservas. As melhores, nem por isso se encontram disponíveis nos mercados.
E o prazer que sempre me dava ir para o campo olhar as uvas ainda verdes, aparar aqui, podar ali, esperar o outono propício e ver aqueles bagos de uvas maduras, crescidas cair no cesto primeiro, depois no lagar... assistir à carne da uva dar o seu sangue e depois aproveitar o esqueleto para um bom bagaço.
Desculpem... dizia eu que via sair vinhos das adegas onde trabalhei, puro engano. Nunca fui enólogo, nem engenheiro da vinha ou do vinho. Escanção sim, mas na travessa onde o bom vinho acompanha as perdizes, a lebre ou uns secretos de porco alentejano. Do vinho só posso dizer do que me acompanha à mesa e o Douro onde nunca estive também os tem para ser feita justiça.
Desculpem... dizia eu que era escanção, mas o meu trabalho nunca foi o aroma, nem a cor, nem o sabor. As uvas e o vinho a que me refiro, foram os alunos que me acompanharam verdes no início, mais maduras no fim. Durante catorze anos foi da escola que vi sair o melhor património nacional, nem por isso produto apenas do meu e do trabalho dos outros professores. As uvas que dão o melhor vinho são por elas próprias primeiro, a condição necessária para a melhor reserva.
Provar um pouco da obra acabada será idêntico a um banquete de Baco aqui na terra.

Aos meus alunos finalistas da Escola EB2.3 Hernâni Cidade no Redondo, por ocasião do jantar de despedida com que presentearam os seus professores.

2 comments:

Infame da Vileza said...

Que bela metáfora meu amigo!

Anonymous said...

Zé Miguel,
Gostei de saber que estás no Alentejo.É magnifico!Espero que estejas a gostar dessas paragens...o único senão é a distância da família mas a qualidade de vida é óptima.
Fica bem!Adorei o blog...Um abraço
Márcia (UCP)